- Recordo-me quando estive aqui...
- Sim, tinhas tido uma grande batalha.
- Salvaste-me! Salvaste-me sempre...
- O amor salvou-te. O de todas as mulheres que passaram por ti...
*
Regressar àquele esconderijo. Tantos anos, décadas, que passei ali. Nas paredes estavam marcadas as minhas frustrações. No chão, os meus pensamentos. Na cama, os meus tormentos.
*
Durante décadas vivi só. Cumprindo as missões que a velha arranjava sempre forma de me entregar.
Vivia em escravidão, consentida talvez. Mas esta realidade era um conforto para mim. O estar ocupada com missões. O matar, simplesmente por matar.
Matar era realmente fácil, depois de nos habituarmos. Anulava-se a consciência, a bússola moral e simplesmente acabava com a vida de qualquer pessoa.
Foram décadas a fazê-lo por encomenda. Sem intervalo.
Até que um dia, a velha deixou de aparecer.
De um momento para o outro, tudo parou. O sangue. As mortes. As lutas. Tudo.
Foi nessa altura que decidi voltar para a baía onde tudo começara. Na esperança de fechar um ciclo.
*
Passado um tempo apareceu o guerreiro e com ele a esperança. Mas ele só via em mim as mulheres do seu passado.
Cuidei dele, esperando que ele me reconhecesse, que voltasse... Porém os dias confirmavam que o espírito não acompanhava o corpo.
Decidi deixá-lo... Dar-lhe tempo para curar...
*
A velha voltou pouco depois com uma última missão. Mas recusei. Não podia...
Falou de uma katana que deu a um guerreiro. Que se alimentava de sangue. Mas que ele a perdeu no campo da última batalha.
A minha missão era descobrir onde ela estava e matar esse guerreiro... o meu guerreiro...
*
As palavras de vingança pairaram no ar e pouco tempo depois no meu corpo.
*
Depois de me assegurar que ele estava bem, após o ter empurrado para as águas da baía, não resisti e fui até à cabana. Queria compensá-lo de alguma maneira pela forma como o tratei.
Entrei e percorri todas as divisões. Fui arrumando a bagunça que ele tinha deixado...
Quando cheguei ao quarto, não resisti e deitei-me naquela cama. O cheiro dele. A marca do corpo. Estavam lá...
Creio que adormeci. Quando me apercebi, o sol punha-se. Ele não me podia ver. Só tive tempo de lhe escrever um bilhete, nada de extraordinário... Só uma palavra. Será que ele algum dia iria ler?
*
Saí a tempo de o ver entrar... Ainda pensei em demorar-me a ver se ele pegava no envelope, mas alguma coisa me urgia a sair dali...
Foi então que cinco assassinos me cercaram. Puxei das sai. Preparei-me para o ataque.
O primeiro saltou, desviei-me e espetei as sai nas costas. O segundo atacou-me com a espada, rodei sobre ela e espetei uma das sai na cara.
O terceiro aproximava-se com a sua kusarigama. Rodava o peso, para me prender. Mas eu saltei sobre o segundo que me atacara e lancei uma sai, enquanto pegava em duas shuriken e lançava-as também.
Nesse movimento, uma seta atinge-me no ombro e grito.
O quarto e o quinto aproveitam-se para se aproximarem, mas um barulho vindo da direção da cabana fê-los fugir e eu desmaiei.
*
- Pega naquilo que precisas.
- ...
- Sim, essa arca guarda um pequeno arsenal...
- Já tens o mapa?
- Sim. Temos de ir...
- Quem vamos combater?
- Uma velha...
- ...
- Sim, essa que tu estás a pensar...