- Mestre, o que dizes não parece certo.
- Desculpa?
- Tu falas de como temos de ser indiferentes à dor, à paixão, às emoções.
- Não é indiferente, é impassível. Podemos sentir as emoções, mas não devemos deixar-nos levar por elas. E não devemos deixar que os outros vejam o quão perturbados estamos.
- Mas isso não é negar a nossa humanidade? Eu percebo a parte em que não nos devemos deixar levar pelas emoções. Mas qual é o problema dos outros verem se estamos a senti-las ou não?
- Perdes vantagem e o controlo.
- Mas as relações são um jogo?
- Não, não é isso que eu quero dizer.
- Não, mestre?
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A menina parava e dançava, corria e andava. Por vezes, voltava atrás e segurava na mão do guerreiro. Outras, deixava-a e voltava a explorar o que a rodeava.
O guerreiro sorria e sentia leveza. A leveza que ele levara tanto tempo a adquirir, ela conseguia-o sem esforço, de uma forma expontânea.
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- Mestre, sinto que tenho de partir. Está na hora! Quero conhecer o mundo e...
- Queres voltar para ela.
- Sim, mestre! Quero voltar para ela.
- Porque inventaste então essa história de conhecer o mundo?
- Porque o Amor parece sempre uma desculpa tão fraca...
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As palavras do pai de Labsirdība ressoavam-lhe na memória. Mal sabia ele que foi graças a estas palavras que o guerreiro mudou. A essas e a muitas outras.
Paixão. Amor. Compaixão. Três palavras que o guerreiro nunca tinha considerado utilizar no seu léxico. Mas aquele rapaz, barra homem, forçou-as em si. Tanta conversa sobre controlo e impassibilidade, tantas regras e restrições...
Afinal, só tinha de se libertar, de se deixar ir... Como aquela rapariga à sua frente.
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- Olá!
Aquela voz acordou-o do torpor que sentia. Levantou a pesada cabeça com esforço e olhou para os olhos dela. Ali viu mundos, galáxias, constelações, o Universo. Viu-se refletido e, o que viu, entristeceu-o.
Ela pegou-lhe na mão.
- Vem comigo, precisas de um banho e de uma boa refeição.
- Álcool!
- Não, acho que já tens o suficiente em ti.
E, com um sorriso, ela puxou-o e encaminhou-o para uma casa de banhos.
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- Estamos a chegar!
- Verdade, Labsirdība!
- Com sol, o caminho parece mais perto, não é?
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- Obrigado! Porque me trouxeste aqui?
Ela sorriu para o guerreiro e incentivou-o a comer mais.
- Eu não mereço, o que me estás a dar.
- Porque falas em merecer? Se eu quiser dar algo, a alguém, tenho que querer algo em troca?
O guerreiro parou de comer e fitou-a nos olhos. O desejo de beijá-la cresceu-lhe pelo corpo. A ereção que sentia, fazia-o ter vergonha, por sentir o desejo do seu corpo.
Mas ele queria entregar não só o seu corpo. Naquele momento queria entregar-lhe toda a sua totalidade. Mas ele mal a conhecia, como isto tinha surgido?
- Não me reconheces, pois não?
Rui, o guerreiro ruim