- Olá! Que bom que chegaram...
- Vou já limpar a mesa e pôr o que é preciso.
Labsirdība parou e olhou para o beijo lento que os dois trocaram. O olhar que permaneceu entre eles, antes de se afastarem, tocando na mão um do outro.
Ela nunca tinha visto os seus pais fazê-lo. Davam-se bem, mas nos últimos anos não via carinho, simplesmente uma fenda que aumentava entre eles.
A guerreira ajoelhou-se à frente da menina e abraçou-a com ternura.
- Bem-vinda! Vai lavar as mãos e depois vai ter com ele... Esquece-se sempre de algo!
--
- Reconhecer-te?
- Sim! Óbvio! Não te lembras de mim?
- Desculpa, não...
A tristeza do guerreiro transbordou do coração e tentou levantar-se da mesa. Mas, ela estendeu a mão e segurou-lhe no ombro, impedindo-o de se erguer.
- Fica! Irás lembrar-te no tempo certo...
E com um sorriso, ela voltou a encher o prato.
- Não sei o que fiz, mas só o privilégio de poder olhar para o teu sorriso...
Quando se apercebeu que o tinha dito em voz alta, o guerreiro ficou vermelho. Ela ergueu-se suavemente e beijou-lhe a testa. Depois, sentou-se e os seus olhares fixaram-se pela eternidade de um momento.
--
- Já está! Uma mesa bonita, não achas?
A menina ficou a olhar para o sorriso de orgulho do guerreiro e riu-se.
- Boa, estás a rir. Entraste aqui com um ar... Bem, vou ajudá-la a trazer as coisas. Venho já!
Labsirdība olhou para ele e depois dirigiu-se para o pátio interior. Ali ficou a olhar para a fonte e para o lago. As cores do pôr-do-sol estendiam-se no céu. Os pássaros diziam adeus ao dia e o silêncio começava a pousar a pouco e pouco.
--
Ela pagou a refeição e os banhos. O guerreiro esperava por ela, à porta, envergonhado pela sua pobreza.
- Hoje, pago eu. Amanhã, quem sabe, se não serás tu?
- Porque me ajudas?
- Porque não?
- Não é isso, porquê a mim. Há tantas outras pessoas...
- Porque nos conhecemos?
- Como assim?
- Nós somos um. Tu, eu, elas e eles, à nossa volta. O teu sofrimento é o meu.
- Sim, mas podias ajudar outra pessoa.
- Pois podia, mas ao olhar para ti, vi a tua luz... Uma luz que me aquece. Que reconheço de uma forma estranha...
- O teu sorriso e o teu olhar... Agora vejo que já os vi. Não nesta vida...
- Talvez a doçura de outras vidas, nos fizeram aproximar agora...
--
- Amo-te!
Ela olhou para ele. Atirou-se ao seu pescoço. Abraçou-o e depois beijou-o.
- Eu também!
Rui, o guerreiro ruim