Pesquisar neste blogue

04 abril 2025

Ela

- Olá! Que bom que chegaram...

- Vou já limpar a mesa e pôr o que é preciso.

Labsirdība parou e olhou para o beijo lento que os dois trocaram. O olhar que permaneceu entre eles, antes de se afastarem, tocando na mão um do outro.

Ela nunca tinha visto os seus pais fazê-lo. Davam-se bem, mas nos últimos anos não via carinho, simplesmente uma fenda que aumentava entre eles.

A guerreira ajoelhou-se à frente da menina e abraçou-a com ternura.

- Bem-vinda! Vai lavar as mãos e depois vai ter com ele... Esquece-se sempre de algo!

--

- Reconhecer-te?

- Sim! Óbvio! Não te lembras de mim?

- Desculpa, não...

A tristeza do guerreiro transbordou do coração e tentou levantar-se da mesa. Mas, ela estendeu a mão e segurou-lhe no ombro, impedindo-o de se erguer.

- Fica! Irás lembrar-te no tempo certo...

E com um sorriso, ela voltou a encher o prato.

- Não sei o que fiz, mas só o privilégio de poder olhar para o teu sorriso...

Quando se apercebeu que o tinha dito em voz alta, o guerreiro ficou vermelho. Ela ergueu-se suavemente e beijou-lhe a testa. Depois, sentou-se e os seus olhares fixaram-se pela eternidade de um momento.

--

- Já está! Uma mesa bonita, não achas?

A menina ficou a olhar para o sorriso de orgulho do guerreiro e riu-se.

- Boa, estás a rir. Entraste aqui com um ar... Bem, vou ajudá-la a trazer as coisas. Venho já!

Labsirdība olhou para ele e depois dirigiu-se para o pátio interior. Ali ficou a olhar para a fonte e para o lago. As cores do pôr-do-sol estendiam-se no céu. Os pássaros diziam adeus ao dia e o silêncio começava a pousar a pouco e pouco.

--

Ela pagou a refeição e os banhos. O guerreiro esperava por ela, à porta, envergonhado pela sua pobreza.

- Hoje, pago eu. Amanhã, quem sabe, se não serás tu?

- Porque me ajudas?

- Porque não?

- Não é isso, porquê a mim. Há tantas outras pessoas...

- Porque nos conhecemos?

- Como assim?

- Nós somos um. Tu, eu, elas e eles, à nossa volta. O teu sofrimento é o meu.

- Sim, mas podias ajudar outra pessoa.

- Pois podia, mas ao olhar para ti, vi a tua luz... Uma luz que me aquece. Que reconheço de uma forma estranha...

- O teu sorriso e o teu olhar... Agora vejo que já os vi. Não nesta vida...

- Talvez a doçura de outras vidas, nos fizeram aproximar agora...

--

- Amo-te!

Ela olhou para ele. Atirou-se ao seu pescoço. Abraçou-o e depois beijou-o.

- Eu também!

 

 

Rui, o guerreiro ruim