Durante o jantar os risos e as gargalhadas sobressaiam. Os três pareciam uma família feliz, até que...
- Não te sintas culpada Labsirdība...
Ela olhou para o guerreiro e para a sua companheira. Ambos olhavam para ela. Como se aperceberam? Como tinham percebido que ela se sentia culpada por estar a rir, quando o seu pai e a sua mãe já não podiam rir?
Levantou-se e saiu a correr. O guerreiro preparava-se para ir atrás, quando ela...
- Eu vou!
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- Vou ter que me ir embora...
- Porquê?
- Tenho de resolver o passado... Não quero começar uma nova vida, com o lastro que carrego das ações que fiz.
- Compreendo! Estarei aqui, à tua espera...
- E se...
- Os "e ses" não existem. Só existimos nós.
- Mas...
- Podes não voltar?
- ...
- Eu sei. Quando se decide estar com alguém, corre-se o risco de essa pessoa se afastar, de eu me afastar. Mas é desse risco que se constrói as relações.
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- O peso que sentes no teu coração magoa-te.
- Como sabes?
- Eu já o sofri.
- Tu? Mas pareces tão feliz...
- A felicidade constrói-se, decide-se, todos os dias.
- Quer dizer que já sofreste?
- Quem nunca sofreu, minha pequena?
- Verdade!
- A dor torna-nos egoístas. Faz-nos esquecer que os outros também sofrem. Cada uma pessoa à sua maneira. Mas não faz mal!
- Não?
- Labsirdība. Não faz mal estares a rir e a sentires-te feliz. Não faz mal sentirmos a dor e esquecer os outros.
- Mas os meus pais estão mortos e...
- Pois estão, mas tu estás viva e duvido que os teus pais quisessem ver-te infeliz.
Labsirdība olhou para aquela mulher e viu um sorriso que a abraçava, cheio de luz, mesmo na escuridão do seu poço.
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Antes de partir o guerreiro beijou-a e permaneceu imenso tempo a olhá-la. O seu sorriso de luz. Um sorriso que se gravava no seu coração como uma tatuagem na pele.
- Eu volto!
Ela sorriu-lhe de volta e ele percebeu que a sua promessa iria ser cumprida, aconteça o que acontecer.
Rui, o guerreiro ruim