- Sinto-me perdida!
- Eu também!
- Tu? Mas não é suposto seres um adulto? Um mestre?
O guerreiro sorriu e olhou à sua volta. Ainda estavam no topo da montanha. Atrás deles estava o vasto oceano e os seus horizontes. Nos lados uma densa floresta, cheia de cheiros e de sons. À sua frente um caminho e um vislumbrar de um vale.
A chuva tinha passado, mas o cheiro a humidade mantinha-se. Os pássaros e os roedores manifestavam-se no meio da vegetação. Os predadores também lá estariam, mas esses são mais silenciosos. Os insetos zumbiam e até as árvores pareciam juntar-se àquela festa de sons e movimentos.
A menina olhava para ele e seguia-lhe o olhar. Pela primeira vez, sentia o burburinho da floresta. Antes só a achava assustadora, ou silenciosa demais. Agora via a vida que lhe percorria pelas veias. Uma vida desconhecida.
- Todos estamos perdidos, mesmo aqueles que julgam ter um propósito, ou objetivos. São meras ilusões que lhes dão segurança. Como se isso evitasse continuarem perdidos num mundo em que nada se controla.
- ...
- Olha os mitos, os contos tradicionais, as religiões... Histórias que contamos para dar um sentido ao caos organizado que a vida é. Todos nós fazemos o nosso melhor, com aquilo que temos e sabemos no momento. Umas vezes, as coisas correm bem para todos, outras só para alguns... Mas continuamos perdidos.
- Então como vivemos, se tudo é um caos e se estamos perdidos.
- Um caos organizado. Uma constante luta pelo equilíbrio e harmonia. Como se houvesse algo superior que coordenasse este cosmos de linhas que se entrecruzam, onde cada nó é um ser vivo. Sim, estamos perdidos, mas é esse o segredo da vida. O estar perdido faz-nos estar mais atentos ao que nos rodeia, aos sentimentos que nos invadem e aos pensamentos que nos constroem.
- Estar perdido é a solução para o estar perdido? Não faz sentido!
- Não? O que fazes quando estás perdida?
- Choro!
- E o que é isso?
- Parar?
- E depois?
- Olho à minha volta.
- Primeiro paras e reconheces que estás perdida. Depois observas a situação em que estás. E?
- Analiso o que observo e escolho um caminho, de acordo com os resultados da análise.
- E se não é o caminho certo?
- Ou tento voltar para trás, ou tento situar-me outra vez.
- E quando não podes voltar para trás?
- Repito todo o processo... E...
- E isso vezes e vezes sem conta...
Labsirdība riu-se e começou a correr à frente do guerreiro. Saltava, rodopiava e cantava. O guerreiro olhava para ela e sorria, apesar da lágrima que insistia correr pela sua cara.
Rui, o guerreiro ruim