- Choras muito?
O guerreiro parou e ficou a olhar para ela. A pergunta tinha-lhe surpreendido. Será que ele chorava assim tanto?
- Acho que agora choro mais facilmente, se penso um pouco sobre isso.
- Não percebo...
- Antes, pensava que chorar era sinal de fraqueza. Um sinal de que não sabia lidar com as emoções.
- Ah, como dizem os rapazes que conheço: "os homens não choram"?
- Sim, talvez isso, mas também porque eu não percebia que as emoções são para se sentir. Elas vêm, sentimo-las e libertamo-las. Mas há emoções tão fortes que nos doem fisicamente e é, nesse momento, que surgem as lágrimas, para nos ajudar a libertar dessas emoções. São como tomar um banho... Desculpa a confusão, penso enquanto falo contigo.
- Mas eu pensava que os mestres sabiam tudo!
- Os mestres não sei, mas eu sinto que não sei nada. Parece que sempre que me fazes uma pergunta, sou obrigado a voltar à base. Repensar e questionar tudo o que sei...
- "Só sei que nada sei", como dizia o Sócrates.
O guerreiro riu-se bem alto. As gargalhadas ressoavam nas paredes das montanhas e ecoavam... Expandiam-se, até que a menina seguiu o compasso e também se riu.
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- Pai, porque é que as pessoas pensam saber tudo?
- Não sei, filha. Sei que o Guerreiro me dizia que a insegurança nos faz agarrar às primeiras palavras que fazem sentido no meio do caos interno em que vivemos.
- O que isso quer dizer, pai? Porque falas em enigmas?
- Porque a verdade não é clara, nem lógica. É algo que simplesmente sabemos, sem saber porquê e sem saber quais as provas e argumentos que sustentam esse saber. Sabemos porque sim.
- Como amar? Eu amo-te, porque sim. Só isso. Nem é por seres meu pai. Amo-te porque sim.
O pai abraçou Labsirdība como se nada mais houvesse no mundo. Como se a única coisa que existia, naquele momento, era aquele abraço. Eles os dois.
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Labsirdība começa a chorar. Como eram estranhas as emoções, inconstantes e imprevisíveis. Num momento está a rir-se e no outro a chorar.
O guerreiro puxa-a para ele e abraça-a com força. Como se aquele abraço fosse todos os abraços que ela perdeu desde a morte do pai, os até aqui e os futuros.
Ali, naquele momento, o passado, o futuro, reuniram-se num abraço.
Rui, o guerreiro ruim