O pequeno-almoço foi em silêncio. A mulher e o homem estavam sentados frente um ao outro. A menina ao lado da mulher.
Quando o homem erguia os olhos, ela fingia tomar atenção à comida que estava em frente dela.
- Depois queres vir dar uma volta comigo?
- Sim, essa é uma boa ideia! Não te importas de ir com ele? Eu vou ter que ir ao mercado comprar umas coisas...
Ela olhou para ambos. Os seus olhos apontavam para ela com uma bondade que ela não imaginava existir depois da morte do pai.
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- Queria devolver-te isto!
A menina olhou para a mão do homem.
- O livro do meu pai!
- Sim, tinhas guardado junto ao teu corpo. Só estava molhado. Conseguimos secá-lo!
- Obrigado!
- O teu pai era um rapaz curioso, Labsirdība.
- Sabes o meu nome?
- Conheci-te, ainda eras bebé...
- Não me lembro de ti!
O homem riu-se. Olhou para a menina, sacudiu-lhe o cabelo e sorriu diretamente para os seus olhos. Uma calma instalou-se no seu peito.
- É melhor deixares aí o livro, para irmos caminhar!
- Não!
O homem voltou a sorrir. Beijou-lhe a testa e estendeu a mão.
- Vamos?
Surpreendentemente, Labsirdība viu-se a segurar-lhe na mão.
- Podes chamar-me Guerreiro.
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- Este livro foi escrito por um guerreiro e sempre me acompanhou nestes anos. Mas, um dia perdi-o. Foi uma estupidez, zanguei-me com ele e atirei o livro pela janela do comboio...
- Porque o encomendaste para mim?
- Para tu perceberes que, mesmo sendo um guerreiro ruim, o amor não nos deixa. Que aquele fogo que existe no nosso coração, não se apaga.
- Mas o guerreiro não faz só a guerra?
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- Sabes, Labsirdība, ser um guerreiro não é só aquele que faz a guerra. É aquele que, como o oceano, persiste, onda após onda. Assim como tu o fizeste para subir esta montanha debaixo de uma tempestade. Imagino as vezes que estiveste para desistir, mas continuaste. Persististe.
A menina ficou de boca aberta, espantada...
- Acredito que o teu pai te tenha dito o mesmo sobre o guerreiro...
- Como sabe?
- Foi ele quem me ensinou essa parte. Incrível como as pessoas que passam na nossa vida são realmente os nossos mestres, se as deixarmos ser.
A menina distraiu-se com o chocalhar de um espanta-espíritos de uma casa vizinha e pensou no seu pai, na sua mãe... O guerreiro olhava para o céu e chorava.
As nuvens passavam, cinzentas. O cheiro da terra molhada vinha do vale, trazido pelo vento. As mãos desconhecidas apertaram-se uma à outra, como se cada uma delas os agarrasse ao presente.
Rui, o guerreiro ruim