Pesquisar neste blogue

11 março 2025

O encontro

A noite invadiu a montanha. A escuridão, aliada à chuva, tornava a subida mais difícil. Mas ela insistia. Um passo atrás do outro.

--

- Pai, o que quer dizer esta palavra?

- Qual palavra?

- Esta...

A surpresa do pai foi difícil de esconder. Como era possível ela já estar a ler?

- PAI!!!

- Montanha!

- Obrigado!

Feliz, ela correu de volta ao sofá, onde se tinha enroscado à volta de um livro de aventuras. A história de uma menina, como ela, que tinha enfrentado a noite e a neve, para ir salvar o pai.

--

«Aconteça, o que acontecer!», repetia a voz interior dela, enquanto subia a montanha. Uma das frases ditas por aquela aventureira de quem ela leu a história vezes e vezes sem conta.

--

- Pai!

- Sim, filha.

- Quando descobriste a leitura?

- Quando percebi que precisava de ser salvo.

- De quem?

- De mim.

--

Depois de subir tanto, eis que a menina chega a uma parede. Dissimulada nessa barreira erguida, junto ao caminho, havia uma porta e um sino. Ela estendeu a mão...

O corpo caiu inerte. As forças tinham acabado. «Aconteça, o que...»

Só o som da chuva a bater no telhado e a cair no chão se ouvia. Naquela noite, só as lágrimas existiam.

--

- Há um livro que te quero dar, minha filha... Mas infelizmente, tenho de o comprar. A minha cópia perdeu-se há muito tempo.

--

Quando ela acordou, o sol entrava pela porta aberta. A luz vinha de um pátio interior, com um pequeno lago e uma fonte. No teto, a luz que refletia nas águas ondulava e dançava.

- Já acordaste? Ótimo!

Uma mulher estava no limiar da porta, com uma muda de roupa, uma toalha e um sabão.

- Trouxe-te uma roupa lavada, para te poderes vestir. Desculpa, só a trazer agora, mas não estava à espera de receber uma menina como tu.

Foi naquele momento, que ela se lembrou de tudo. A porta. O desmaio... Levantou-se e reparou que, além de limpa, estava despida. Enrubesceu e puxou o lençol para tapar.

A mulher sorria de forma terna, à medida que lhe contava como a tinha encontrado, com o seu companheiro, e lavado, antes de a deitar.

- Companheiro? Esta é a casa do guerreiro?

A mulher sorriu.

- Toma, a água está quente. Estamos à tua espera ali, naquela salinha com o pequeno-almoço.

Assim que a menina entrou na banheira, as lágrimas voltaram a correr. Assim que a menina se vestiu, as lágrimas voltaram a secar. Assim que saiu para o pátio, a chuva voltou a cair.

 

 

Rui, o guerreiro ruim