Pesquisar neste blogue

03 maio 2023

O pendente

- Estás muito calada, pequena Sióg...

- Não tenho nada para dizer, Goath.

- Não?

A pequena fada guerreira já entrara, com Goath, há um dia no Reino das Fadas do Sul e ainda não tinham visto vivalma. Mesmo a casa de Misneach estava vazia. As portas e as janelas estavam quebradas e o interior não estava muito diferente, com algumas manchas de sangue aqui e acolá...

- Pelo cheiro, esta casa foi abandonada há uns dias...

- Goath, encontrei aqui vestígios! Apesar do vento ter apagado, estes ficaram.

Junto a Sióg estavam marcas dos ferros que os humanos colocavam nos cascos dos cavalos.

- Humanos! A cavalo!

- Pelo estado da casa, as fadas não esperavam o que aconteceu.

- O que será que aconteceu?

No momento em que disse isso, Sióg reparou num montículo de terra com uma pequena escultura.

- Misneach!

A fada correu até lá e verificou a escultura... Era um barco feito de modo tosco, com uma boneca de palha representando a fada.

- Depositaram aqui as cinzas dela... Junto ao rio...

- Não tens culpa, Sióg!

- Tenho! Eu estou VIVA... ELA NÃO!

As lágrimas começaram a correr. Toda a dor que lhe aconteceu desaguou naquele momento. Com a fuga, o salvar Ádhamh, a reunião com a rainha... com os velhos sentimentos a voltarem... Sióg não tinha ainda tido tempo para chorar a morte de Misneach, nem de lhe fazer o luto, nem de sentir...

O sol já se punha no horizonte, quando Sióg acordou... Encontrava-se encostada a Goath.

- Dormi muito tempo?

- Não muito.

- É melhor pernoitarmos aqui, não é?

Levantou-se e dirigiu-se para uma cabana afastada da casa principal. Lá dentro só se via uma bancada, partida ao meio, e um armário caído. Verificou tudo e a um canto encontrou um pendente com a forma de um falcão.

- GOATH!

- Já vou, beag Sióg!

- Olha o que encontrei!

- O falcão!

- Será que posso convocá-lo?

- Só se o dono estiver morto...

 

 

Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim