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13 abril 2023

O choro

O humano, assim que levantou o Sol, começou a murmurar algo.

Sióg não o entendia. A língua humana era-lhe estranha. Mas percebeu pelos fracos gestos que ele deveria querer água.

Assim que se aproximou dele e esticou o braço, ele agarrou-lhe o pulso e olhou-lhe nos olhos. A seguir? Desfaleceu...

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- Pára, Gaoth!

- Que foi beag Sióg?

- Estou perdida, não sei onde estamos...

- Creio que corri para Norte, mais para Sul e iríamos para o Grande Deserto.

- Este nevoeiro!

- Não é o nevoeiro que te incomoda, pois não?

Sióg, assim que ouve as palavras de Goath, desfaz-se a chorar. Aos rios que lhe escorriam dos olhos juntavam-se os espasmos do corpo, como se todo o corpo e a sua alma chorassem em conjunto.

Gaoth baixa-se e deixa a fada deslizar até ao tronco de uma árvore. Mas antes que se voltasse a levantar, Sióg enrosca-se a ele e continua a chorar, até que o choro dá lugar ao fungar e depois ao ressonar.

Quanto tempo ali ficaram, nenhum deles soube dizer.

O nevoeiro levantou-se, os animais voltaram aos seus hábitos diurnos. As cigarras cantavam, os pássaros acompanhavam-nas. As borboletas e abelhas voavam de flor em flor. Os pequenos roedores faziam incursões rápidas para encher as bochechas da tão necessitada comida.

Gaoth mantinha-se atento a tudo o que o rodeava. De quando em vez, verificava se Sióg estaria a dormir, ou se a sua alma tinha decidido sair, devido à dor que tinha sentido...

Mas um pensamento repetia-se na sua mente, algo que o preocupava já há algum tempo desde que tinham chegado àquele outeiro: o cheiro de seres humanos.

A noite caiu e, com ela, o peso da vigia em Goath e assim ambos dormiram, vigiados secretamente por uma coruja e uma raposa, que ali tinham permanecido durante todo este tempo...

Aos primeiros raios do dia a seguir, os medos de Goath concretizam-se e um barulho acorda-os...

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Sióg ficou a cuidar daquele homem mais um bocado, depois de ele desmaiar... Repetia na sua cabeça uma e outra vez tudo o que tinha acontecido desde o outeiro até àquele momento. Ainda não tinha percebido...

- Porque o salvei?



Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim