Sióg pegou no homem e carregou-o até a uma gruta. Deitou-o e acendeu uma fogueira.
A luz e o calor começaram a inundar o espaço e a mostrar desenhos antigos, dos quais se desconheciam a origem.
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O pai de Misneach entrou em casa com os gémeos.
- Então, mulher? Não nos vens servir?
A mãe ficou uns tempos a olhar para Sióg e depois foi.
- Anda Misneach, temos de servir os homens...
Misneach agarrou com força o amuleto de Sióg, olhou para ela e guardou-o no bolso. Antes de virar as costas, Sióg viu nos olhos de Misneach algo que ainda não lhe tinha visto... Uma sombra, uma tristeza enorme.
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De dentro da casa, ouviam-se vozes masculinas a cantar e a rir. O barulho era tanto que até os abutres se tinham ido embora com o Sol e com a Lua.
Sióg olhava para os lados, para si... Não queria acreditar no que estava a viver. Como seria possível? Mas, a pouco e pouco, o cansaço foi a conquistando.
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- Sióg! Acorda... Sióg! Acorda, por favor...
A voz baixa e suplicante de Misneach mostrava urgência.
- Ãh! Quê?
- Cortei-te as cordas! Toma o teu amuleto e vai... Foge!
- Mas, Misneach... Vem comigo!
Enquanto falavam, Sióg levantou-se e agarrou Misneach. Olhou-lhe nos olhos e viu um esgar... A princípio não percebia o que estava a acontecer, até que reparou no corpo de Misneach a desfalecer-lhe à frente.
- Acertei-lhe, pai!
- Boa, filho! Só espero que não esteja morta... Os Humanos assim não pagam!
As mãos de Sióg encontraram a flecha que tinha acertado no pulmão direito de Misneach...
- Traz a luz, mulher!
- Acertei-lhe! Acertei-lhe!
As duas fadas continuavam agarradas, num abraço de despedida frio, sem cor nem vida.
- Misneach...
As lágrimas corriam-lhe como o rio que bordava a casa.
- Vai, Sióg... Descul...
Misneach tinha deixado de respirar. Sióg levantou-se e gritou o nome de Gaoth...
Assim que o alce se materializou à sua frente, a fada guerreira saltou para o seu dorso e pediu-lhe para ir o mais depressa dali.
- Misneach! Porquê? O que vocês lhe fizeram?
- Mas, mãe... Pensava que era...
O som de uma chapada e de um urro visceral e primevo espalhou-se na escuridão, mas Sióg já não o ouvira.
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A gruta aqueceu rápido. O Humano já estava a recuperar alguma vitalidade no seu corpo.
- Porque o salvaste beag Sióg?
- Não sei...
O crepitar do fogo tomou conta do silêncio que se seguiu. Ao longe, ouviam-se os barulhos da noite...
Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim