Assim que chegaram onde os humanos tinham estado, Sióg reparou logo nos abutres que o rodeavam. Esperavam o último fôlego daquele homem.
- Nem a roupa lhe deixaram.
- Estes humanos nem os seus respeitam.
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- CHEGÁMOS!
Os irmãos levantaram-se de tal modo entusiasmados que o barco abanou e quase que se virava...
- Seus...
- Onde estiveram? Não sabem há quanto tempo vos estou a procurar? E tu, Misneach? Porque demoraste tanto tempo? Trouxeste o que te pedi? Sempre a mesma coisa, não posso contar com ninguém... Tenho de fazer tudo sozinha...
A mãe dos três irmãos disse isto num só ao fôlego, ao mesmo tempo que carregava um bebé.
- E onde está o vosso pai? Esse é outro? Mas porque me calha... Quem é essa rapariga? Porque está ela vestida à moda do Oeste? O que vocês fizeram agora?
Sióg saiu do barco assim que ele acostou e dirigiu-se à mãe.
- Desculpe, minha senhora! Eu sou a Sióg e lamento informá-la de que fui a causadora do atraso de Misneach. Graças a ela, estou viva e a falar consigo. Ela salvou-me de uns ogres que me queriam comer.
- A Misneach faz de tudo para não trabalhar. Como é que ela a convenceu a dizer tamanha mentira?
A assistir a esta troca de palavras estavam os três irmãos de braços cruzados. Ao fundo, o sol punha-se, dourando as areias do início do deserto do Sul. No telhado da casa, estavam dois abutres pousados indiferentes.
- Como?
- Ouviste-me bem! É óbvio que isso é uma mentira. Gostava de saber onde arranjaste essa roupa!
A indignação de Sióg subia. Estava prestes a rebentar, quando alguém prende-a. Sem se aperceber tinham-na segurado, atado as mãos e tapado a boca.
- Boa, mulher! Os Humanos devem-nos dar um bom preço por uma fada tão bonitinha.
- Temos de agradecer à Misneach e aos meninos.
- Sim, o ataque dos Humanos ao Reino do Leste tem-nos sido proveitoso.
Entretanto, Misneach aproximara-se de Sióg. A fada guerreira sorriu com o olhar. Misneach fechou os olhos e arrancou-lhe o fio onde estava Gaoth.
- Também temos o espírito guia da família dela. Acham que podemos vender?
- Pobre criança! Ela ainda não percebeu que os espíritos só aparecem à família... Queima-o!
Sióg tentou gritar e estrebuchar, mas como resposta só obteve algumas pedradas dos gémeos.
As lágrimas começaram-lhe a escorrer pela cara. Ela não queria acreditar que as fadas andavam a trair-se umas às outras...
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- Ele está vivo Gaoth!
- Parabéns, para ele...
- Vou salvá-lo!
- Sióg........
Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim