Sióg e Gaoth voltaram lentamente para a reentrância no outeiro que os tinha guardado. Limparam o terreno, agradeceram aos espíritos do lugar pela receção e proteção, e partiram.
- Quando chegamos ao Reino das Fadas do Oeste?
- Estamos perto...
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O barco seguia indolente a corrente, cada vez mais para sul. Cada vez mais na direção das Grandes Areias.
- Como te chamas?
- Ainda não te disse? Que distraída!
A fada do sul levanta-se e coloca-se entre o sol e Sióg, numa posição de desafio. Pernas abertas à largura dos ombros, mãos nas ancas e com a cabeça para cima.
- Misneach!
- Bem, lá que tens coragem, isso tens!
Ambas começaram a rir, às gargalhadas, como se o riso limpasse a tensão que ambas acumulavam...
- Para onde vamos, Misneach?
- Para casa, óbvio! Lá estamos em segurança. Só espero que a minha família não te assuste!
Sióg ficou preocupada, quando Misneach acabou de dizer aquilo. Aquele sorriso não lhe inspirava confiança.
Ao fim de algum tempo, o barco parou no meio do rio. Estacou, por completo. Ambas as fadas ficaram a olhar uma para a outra sem saber o que fazer. Misneach ainda tentou a sua magia do vento, mas sem efeito.
- Tubarões?
- O quê?
A rodear o navio andavam duas barbatanas de tubarão. Que ora se afastavam, ora se aproximavam.
- Aqui? Tão acima no rio?
- O que se passa Misneach?
- Não sei!
De repente, das águas saltam dois tubarões, prontos a abocanhá-las... Ambas gritam de pânico e fecham os olhos. Não havia fuga possível! Que horrível maneira de morrer!
- AH! AH! AH! Viste como caíram?
- Realmente! Ainda se chama ela de coragem? AH! AH! AH!
Sióg e Misneach abrem os olhos e, perante elas, estão dois fadas com cara redonda e traquina.
- GÉMEOS!!! Se a mãe sabe...
- O quê? Vais contar-lhe, é?
- VOU!
- Já te esqueceste daquela carta?
- ...
- Carta?
- Sióg! Não te metas... Isto é entre mim e os meus irmãos...
- Oh, mas temos aqui uma convidada!
- E do Reino do Oeste, irmão!
Sióg ri-se com a mudança de solenidade das expressões e comportamentos daqueles dois fadas tão diferentes da irmã.
- Minha senhora, dê-me o prazer de apresentar, sua senhoria, o meu irmão: Bradacha!
- E, a mim, minha senhora, de apresentar o meu irmão: Reibiliúnach!
- Muito prazer, caros cavaleiros! O meu nome é Sióg.
Acabadas as apresentações, todos começaram a rir-se, ao mesmo tempo que o barco voltava a seguir a corrente rio abaixo.
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Sióg permanecia absorta na imagem que tinha testemunhado. O peso daquele humano a morrer e ela...
- Voltemos Gaoth!
- ...
- Tenho de ir salvar aquele humano!
- Mas...
Gaoth calou-se. Sióg agradeceu-lhe e limpou as lágrimas que lhe escorriam pela face.
Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim