Sióg levanta-se e vai ver o que se passa. A passo e passo aproxima-se dos últimos arbustos do outeiro, na direção de onde vieram os ruídos. Ao fundo, vê um grupo de homens a acorrerem a um que se contorcia agarrado à mão.
Apesar de estar longe, ainda captou algumas palavras trazidas pelo vento: escorpião, morrer, velho. Será que ele tinha sido picado por um escorpião? Será que estavam a falar de uma arma (como aquela que uma vez vira num cadáver humano, numa das suas explorações?)? Várias perguntas vieram-lhe à cabeça.
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Gaoth só parou quando estavam bem longe dos ogres, junto a um rio largo e indolente. Sióg ainda estava atarantada com o que se passou. Ambos ficaram em silêncio durante um longo tempo.
- Gaoth?
- Sim, Sióg!
- Mas...
- Sou o espírito animal guardião da tua família.
- Não percebo...
- Todas as famílias de fadas têm um espírito animal guardião. Eu sou o da tua família.
- Mas como é possível?
- Desculpa, beag Sióg, mas não deveríamos pensar em algo mais urgente?
- Ah, sim! A fuga...
Olharam para os lados e não viram nem ponte, nem barco, nem qualquer outra forma de atravessar. Entretanto, ao longe, ouviam os pássaros a voar e a piar em sinal de perigo. Os ogres não tinham desistido!
Gaoth pegou na fada e atirou-a para o seu dorso e começou a correr para Sul...
- Afinal o Seabhac tinha razão...
- O que disseste?
- Nada, Gaoth! Nada...
No momento em que disse isso, um pedregulho caiu na água ao seu lado. Os ogres tinham chegado à margem e atiravam alguns pedregulhos que ali pesavam na margem.
Gaoth acelerou o passo. Sióg procurava uma forma de atravessar o rio, mas nada aparecia como resposta.
- Ahoy!
Tanto a fada, como o alce, pararam com a surpresa. No meio do rio, surgia um barco que se movia como que por magia. Lá dentro, uma fada do sul.
- Subam! Rápido! Creio que eles não estão para brincadeiras...
Sem se aperceberem, o barco tinha-se aproximado e a fada já estava a puxá-los.
- Espírito do alce, não queres voltar à tua forma? O barco é mágico, mas tem as suas limitações a nível de peso.
Assim que ela o disse, Gaoth voltou a ser um pendente no pescoço de Sióg.
- Gostava de ficar a conversas com aqueles ogres, mas já tenho amigos suficientes. Não achas?
E com um piscar de olhos, o barco afastou-se da margem e para longe dos pedregulhos que, entretanto, os ogres começaram a lançar.
- Quem és tu?
- Isso agora, minha pequena fada do leste...
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- Sióg! Não podemos ajudá-lo. Foi picado por um escorpião das areias. Os humanos morrem em minutos.
- Mas eu podia ter ajudado, se tivesse percebido.
- Sióg, os humanos são nossos inimigos.
- Serão?
Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim