Sióg e Gaoth cavalgavam há umas horas, quando decidiram descansar. Pararam num outeiro, fora dos caminhos habituais.
Apesar do frio, decidiram não acender nenhuma fogueira. Queriam evitar os ogres da floresta.
Gaoth deitou-se e a fada encostou-se ao pêlo quente do alce. Junto a ela, estava um trevo de quatro folhas.
- Gaoth! A Deusa abençou-nos com um trevo de quatro folhas! Vamos ter sorte no caminho...
- Assim espero, beag Sióg...
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Sióg, de repente, viu-se sozinha naquilo que fora a sua aldeia. No que agora, não passava de cinzas e ruínas.
Com o pendente ao pescoço, a fada guerreira olhou para o céu e chamou um falcão que ali pairava.
- Guia-me espírito Seabhac! Qual o caminho mais rápido para regressar ao Reino das Fadas do Oeste?
O falcão olhou para baixo e, com um longo pio, afastou-se na direção do Reino das Fadas do Sul.
- Mas que estranho! Porque é que deverei ir para o Sul, se eu quero ir para Oeste?
Sióg olhou para o voo direito da ave e começou a voar pela estrada do Oeste...
Do nada, começa a chover torrencialmente. A água começa a pesar nas asas e na roupa encharcada, o que obriga a fada a pousar e a continuar a pé.
- Olhem, rapazes! Uma fada! Pensava que elas tinham fugido todas...
Sióg, pôs a mão sobre a espada que carregava na cintura.
- Oh, tão engraçadinha... Está toda molhada e ainda tem uma espadinha...
- Que quereis, senhores ogres?
O ogre que tinha falado e mais um que o ladeava aproximaram-se.
- Hmm, deixa cá ver...
Num gesto rápido, Sióg corta uma das mãos que se aproximavam para a agarrar. O ogre mais próximo fica a gritar, agarrado ao local onde estaria uma mão.
O que estava logo atrás puxa da sua marreta, mas essa seria a última coisa que faria. Sióg, num movimento circular, escapa-se ao primeiro e enfia a espada no local onde estaria o coração do segundo.
Enquanto um caía e o outro afastava-se a correr, das sombras surgem mais três. Sióg, apercebendo-se da sua situação, embainha a espada e tenta voar, mas sem sucesso.
- Agarrem-na! Ela tem de sofrer antes de morrer!
A fada começa a correr à frente dos dois ogres que deixaram o chefe atrás. Ela tenta ziguezaguear pelo bosque, mas os monstros que a seguiam não desistiam.
Cansada, ela lembra-se do pendente e grita o nome do espírito do alce:
- GAOTH!
No meio da chuva, das gotas que caíam de forma pesada... da lama, que transformava o chão... de uma nuvem de poeira dourada, surge um alce com umas hastes enormes.
- Vem, pequena fada!
Sióg, sem pensar, salta para cima do alce. Os ogres aproximam-se e saltam na esperança de ainda a apanhar. Mas, os seus corpos e mãos pesadas, só encontram a lama. Goath e Sióg já tinham partido a cavalgar...
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Sióg acorda com um barulho. Parecem passos. Ela pega na espada e prepara-se para o combate. Goath, levanta-se num instante e também se prepara...
- São homens. Sinto-lhes o cheiro.
- Tão a Sul? Que fazem aqui?
Nesse momento, ouve-se um grito e os homens afastam-se do outeiro...
Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim