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23 dezembro 2021

A Cavaleira / Mensageira

A noite aproximava-se. Os pirilampos esvoaçavam à volta dos arbustos e plantas. O cheiro a humidade elevava-se do chão musgoso da floresta.

Sióg observava tudo isto sentada no alce Gaoth. Deixava-se maravilhar com aquelas luzinhas e com os últimos raios quebrados e fracos do sol, por entre as árvores.

- Meu seanchara Gaoth! Quanta paciência tens comigo...

- Temos de ir, beag Sióg! Temos de entregar a mensagem à banríon na Gcroí.

- Sim, a rainha Gcroí espera-nos...

Agarrada às hastes do velho alce, a fada seguiu o seu caminho pelo meio da floresta Foraoise Ársa. Há muitos dias que caminhavam juntos, em direção do reino das Fadas do Oeste.

 

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- Mam! Daidí! Onde estão?

À sua volta, só as cinzas restavam. Um fogo consumira grande parte da floresta onde Sióg vivia. Muitas fadas perderam as suas casas.

A pouco e pouco, os Humanos conquistavam terreno e mostravam-se indiferentes com a destruição que criavam.

- Sióg! Estamos aqui!

- O que se passou?

- Os humanos! Começaram a cortar as árvores antigas há uns meses e agora queimam o que já não lhes serve, para criarem pastos.

Sióg olhava à sua volta e só conseguia ver as outras fadas a carregarem as carroças com o pouco que lhes sobrara.

- Vamos para o reino das Fadas do Norte, Sióg! Decidimos, hoje, ir ter com os nossos primos.

- Porque não esperaram por mim? Eu posso levá-los para o reino das Fadas do Oeste.

- Para onde pensas que os humanos se dirigem, minha iníon?

- Tenho de voltar e avisar a rainha Gcroí!

- Não vens connosco?

- Não posso, mam. Os meus deveres de trodaí obrigam-me a ir relatar o sucedido.

A mãe de Sióg, antes de lhe dizer algo, olhou para o pai e para as irmãs e irmãos, como se a pedir permissão. Havia algo que ela segurava na mão e que pretendia oferecer à sua filha.

- Sióg, nós compreendemos. Já não resta nada do nosso reino das Fadas do Leste. Só refugiados.

- Mam, daidí, deartháireacha e deirfiúracha... Desculpem! Mas, tenho de ir...

- Nós sabemos, minha iníon! Mas antes queríamos dar-te isto?

A mãe abriu a mão. Era um pendente com o símbolo de um alce.

- Leva! Este é o pendente de Gaoth, o alce do vento. Se um dia, na tua viagem, precisares de ajuda e pedires com muita fé, ele aparecerá.

- Mas, mam...

- Pega e vai... Corre com o vento e leva a mensagem de destruição à tua rainha.

- Mam...

Enquanto as lágrimas escorriam pelos olhos de Sióg, a família dela partia...

 

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- Vamos, Gaoth. Ainda temos algumas horas até lá chegar...



Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim