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16 abril 2023

Ádhamh

Sióg dormitava, encostada a Goath, quando o humano se levantou. Mesmo a cambalear, o humano dirigiu-se até à entrada da gruta.

O Sol punha-se, naquele momento, e deixava laranjas e vermelhos nas nuvens e no céu. Mais a sul, via uma estrela brilhante, que se impunha na fronteira entre os arroxeados e o azul.

Ficou ali durante algum tempo, simplesmente a olhar. Depois virou-se para trás e os seus olhos cruzaram o de Sióg.

Os dois sentiram algo, simultaneamente, algo que lhes era proibido. Viraram a cara e permaneceram ali, em silêncio.

- Vejo que já estás bom!

- Sim, sinto-me melhor. Obrigado!

Sióg ficou muda e espantada! Eles falavam a mesma língua...

- Não te assustes, por favor. Eu aprendi a falar a tua língua, quando era pequeno.

- Como assim?

- É uma longa história... Mas como vim aqui parar?

- Não te lembras?

O humano dirigiu-se à fogueira e começou a mexer no tronco que ardia, com um pau que ali se encontrava.

- Tenho sede...

A fada levantou-se e foi buscar água ao fundo da gruta, onde escorria um pequeno fio de água. Sentou-se ao pé do humano e entregou-lhe o cantil.

Ele fechou os olhos, disse uma pequena oração e bebeu alguns goles. Depois, fechou os olhos e agradeceu aquela água.

- Tu bebes à maneira das fadas guerreiras? Onde aprendeste?

- Respondendo à tua primeira pergunta: não, não me lembro do que aconteceu.

- E à segunda?

- Como te disse, uma longa história...

Após ter dito aquilo, o humano tentou levantar-se, mas uma dor forte no corpo impediu-o. Fazendo-o sentar-se outra vez.

- Foi há pouco tempo. Os teus companheiros, depois de teres sido picado por um escorpião da areia, roubaram-te e deixaram-te todo nu na orla do deserto...

- Não tenho companheiros.

- Mas viajavas com eles...

O humano interrompeu Sióg e levantou-se, com um esgar. Voltou à entrada da gruta. O sol já tinha posto. Só uma faixa amarela no horizonte lembrava da sua existência.

- Chamo-me, Ádhamh!



Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim