Sióg dormitava, encostada a Goath, quando o humano se levantou. Mesmo a cambalear, o humano dirigiu-se até à entrada da gruta.
O Sol punha-se, naquele momento, e deixava laranjas e vermelhos nas nuvens e no céu. Mais a sul, via uma estrela brilhante, que se impunha na fronteira entre os arroxeados e o azul.
Ficou ali durante algum tempo, simplesmente a olhar. Depois virou-se para trás e os seus olhos cruzaram o de Sióg.
Os dois sentiram algo, simultaneamente, algo que lhes era proibido. Viraram a cara e permaneceram ali, em silêncio.
- Vejo que já estás bom!
- Sim, sinto-me melhor. Obrigado!
Sióg ficou muda e espantada! Eles falavam a mesma língua...
- Não te assustes, por favor. Eu aprendi a falar a tua língua, quando era pequeno.
- Como assim?
- É uma longa história... Mas como vim aqui parar?
- Não te lembras?
O humano dirigiu-se à fogueira e começou a mexer no tronco que ardia, com um pau que ali se encontrava.
- Tenho sede...
A fada levantou-se e foi buscar água ao fundo da gruta, onde escorria um pequeno fio de água. Sentou-se ao pé do humano e entregou-lhe o cantil.
Ele fechou os olhos, disse uma pequena oração e bebeu alguns goles. Depois, fechou os olhos e agradeceu aquela água.
- Tu bebes à maneira das fadas guerreiras? Onde aprendeste?
- Respondendo à tua primeira pergunta: não, não me lembro do que aconteceu.
- E à segunda?
- Como te disse, uma longa história...
Após ter dito aquilo, o humano tentou levantar-se, mas uma dor forte no corpo impediu-o. Fazendo-o sentar-se outra vez.
- Foi há pouco tempo. Os teus companheiros, depois de teres sido picado por um escorpião da areia, roubaram-te e deixaram-te todo nu na orla do deserto...
- Não tenho companheiros.
- Mas viajavas com eles...
O humano interrompeu Sióg e levantou-se, com um esgar. Voltou à entrada da gruta. O sol já tinha posto. Só uma faixa amarela no horizonte lembrava da sua existência.
- Chamo-me, Ádhamh!
Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim