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31 agosto 2021

Sono

Voltei a entrar na cabana. Despi-me. Tomei a minha ablução e fui-me deitar.

Dormi um sono sem sonhos. Um sono pesado e longo. Os dias passavam no tempo normal, mas em mim a noite foi sempre a mesma.

Quando acordei, a minha cabana tinha-se alterado. As teias tinham aumentado, o pó acumulado e as silvas abraçavam as paredes, entrando nas janelas.

O chão estava cheio de areia, de insetos que percorriam carreiros deixados por eles, ou por outros anteriores.

As moscas rodopiavam nos raios de luz e o cheiro da humidade e podridão pesavam nas minhas narinas.

O meu cabelo tinha crescido, assim como a barba e as unhas.

Assim que me levantei, uma camada de pó caiu de mim.

As pernas custaram a andar, mas assim que lhe tomaram o jeito, levaram-me à casa de banho.

Pelo caminho, vi buracos no telhado. Pedaços deste no chão e sobre os móveis que constituíam a minha "decoração".

Ao entrar na casa de banho, reparei no acumular de lixo que ali existia e no cheiro a água parada.

Olhei-me no espelho baço. A minha figura misturava-se com o pó e gordura que o cobria.

Fechei os olhos. Afastei as pernas à largura dos ombros. Estendi os braços ao céu. Respirei.

A pouco e pouco, de dentro de mim, começou a ressoar a sílaba primordial...

Os insetos foram os primeiros a recuar na sua expansão. Depois, as silvas e os pequenos mamíferos. As aves que já tinham feito ninho, também fugiram.

A pouco e pouco, o pó foi desaparecendo. O telhado começou a reconstruir-se. As águas deixaram de deitar o cheiro de estagnação. A podridão desapareceu, assim como a humidade.

Quando terminei, toda a cabana tinha voltado ao seu formato original.

Olhei para o espelho. O cabelo, a barba e as unhas continuavam grandes. Mas isto tinha de ser eu a tratar...


Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim