Voltei a entrar na cabana. Despi-me. Tomei a minha ablução e fui-me deitar.
Dormi um sono sem sonhos. Um sono pesado e longo. Os dias passavam no tempo normal, mas em mim a noite foi sempre a mesma.
Quando acordei, a minha cabana tinha-se alterado. As teias tinham aumentado, o pó acumulado e as silvas abraçavam as paredes, entrando nas janelas.
O chão estava cheio de areia, de insetos que percorriam carreiros deixados por eles, ou por outros anteriores.
As moscas rodopiavam nos raios de luz e o cheiro da humidade e podridão pesavam nas minhas narinas.
O meu cabelo tinha crescido, assim como a barba e as unhas.
Assim que me levantei, uma camada de pó caiu de mim.
As pernas custaram a andar, mas assim que lhe tomaram o jeito, levaram-me à casa de banho.
Pelo caminho, vi buracos no telhado. Pedaços deste no chão e sobre os móveis que constituíam a minha "decoração".
Ao entrar na casa de banho, reparei no acumular de lixo que ali existia e no cheiro a água parada.
Olhei-me no espelho baço. A minha figura misturava-se com o pó e gordura que o cobria.
Fechei os olhos. Afastei as pernas à largura dos ombros. Estendi os braços ao céu. Respirei.
A pouco e pouco, de dentro de mim, começou a ressoar a sílaba primordial...
Os insetos foram os primeiros a recuar na sua expansão. Depois, as silvas e os pequenos mamíferos. As aves que já tinham feito ninho, também fugiram.
A pouco e pouco, o pó foi desaparecendo. O telhado começou a reconstruir-se. As águas deixaram de deitar o cheiro de estagnação. A podridão desapareceu, assim como a humidade.
Quando terminei, toda a cabana tinha voltado ao seu formato original.
Olhei para o espelho. O cabelo, a barba e as unhas continuavam grandes. Mas isto tinha de ser eu a tratar...
Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim