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28 maio 2021

A criança

Perante mim, estava uma terra que não conhecia. De um tempo que não sabia identificar.

Via prédios de dois e de três andares, misturados com casas térreas de uma porta e duas janelas. Não fazia sentido. Nunca tinha visto tais estruturas.

- Mas o que aconteceu?

- Ainda não percebi...

A noite parecia estar escondida pelas luzes que haviam nas ruas. Decidimos ir em frente, mas algo no prédio que fazia esquina me chamava. Principalmente no terceiro andar...

Eu e a Morte voámos até lá. Uma janela estava meio aberta. Espreitámos por esse espaço. Lá dentro estava uma criança deitada a dormir numa cama esquisita, com prateleiras por cima. Reconheci um armário, achei que era um roupeiro, apesar de ter muitos retângulos lá colados.

As prateleiras estavam realmente cheias de brinquedos e de livros. Ao fundo, havia uma arca com um candeeiro ligado. Será que a criança tinha medo do escuro?

- Mãe! Mãe! Mãe!

A criança começou a gritar. Parecia estar a ter um pesadelo.

- O teu pesadelo?

- Como?

De repente, fiquei de boca aberta a olhar para aquela criança. Não queria acreditar... Mas, como era possível?

Lá dentro vimos movimento. A criança chorava e apontava para a janela. O pai vai de imediato abrir.

- Vês, não está aqui nada. Queres vir ver?

- Mas, eu vi....

- Eu acredito! Podes ter visto mesmo algo, mas agora não está aqui nada.

- Mas, eu...

- Vamos fechar a janela e a persiana?

- Sim!

Apesar das persianas baixas, nós entrámos no quarto e começámos a observar a dinâmica daquela família. Reparámos que eles não nos viam. Passavam por nós, como se nada fosse.

- Vá, vamos dormir...

- Mãe!

- Sim!

- Existem fantasmas?

- Não, claro que não.

- Ah! Está bem...

- Porquê?

- Nada, estou com sono...

Ao dizer aquelas palavras, a criança olhou para nós e sorriu.

A mãe e o pai beijaram a criança e foram-se embora. Nós também íamos, quando a criança olhou mais uma vez para nós, antes de fechar os olhos.

Eu e a Morte ficámos em silêncio durante muito tempo, ali em frente à janela. Até que decidimos voltar ao chão.

- Será que se voltarmos para trás?

- Leste os meus pensamentos, Morte!

- Podia, mas contigo não o faço.

Rimos à gargalhada e descemos a rua. Sem percebermos como, fomos dar à minha casa. Entrámos e a Morte foi fazer o tal chá!

 

 

Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim