Perante mim, estava uma terra que não conhecia. De um tempo que não sabia identificar.
Via prédios de dois e de três andares, misturados com casas térreas de uma porta e duas janelas. Não fazia sentido. Nunca tinha visto tais estruturas.
- Mas o que aconteceu?
- Ainda não percebi...
A noite parecia estar escondida pelas luzes que haviam nas ruas. Decidimos ir em frente, mas algo no prédio que fazia esquina me chamava. Principalmente no terceiro andar...
Eu e a Morte voámos até lá. Uma janela estava meio aberta. Espreitámos por esse espaço. Lá dentro estava uma criança deitada a dormir numa cama esquisita, com prateleiras por cima. Reconheci um armário, achei que era um roupeiro, apesar de ter muitos retângulos lá colados.
As prateleiras estavam realmente cheias de brinquedos e de livros. Ao fundo, havia uma arca com um candeeiro ligado. Será que a criança tinha medo do escuro?
- Mãe! Mãe! Mãe!
A criança começou a gritar. Parecia estar a ter um pesadelo.
- O teu pesadelo?
- Como?
De repente, fiquei de boca aberta a olhar para aquela criança. Não queria acreditar... Mas, como era possível?
Lá dentro vimos movimento. A criança chorava e apontava para a janela. O pai vai de imediato abrir.
- Vês, não está aqui nada. Queres vir ver?
- Mas, eu vi....
- Eu acredito! Podes ter visto mesmo algo, mas agora não está aqui nada.
- Mas, eu...
- Vamos fechar a janela e a persiana?
- Sim!
Apesar das persianas baixas, nós entrámos no quarto e começámos a observar a dinâmica daquela família. Reparámos que eles não nos viam. Passavam por nós, como se nada fosse.
- Vá, vamos dormir...
- Mãe!
- Sim!
- Existem fantasmas?
- Não, claro que não.
- Ah! Está bem...
- Porquê?
- Nada, estou com sono...
Ao dizer aquelas palavras, a criança olhou para nós e sorriu.
A mãe e o pai beijaram a criança e foram-se embora. Nós também íamos, quando a criança olhou mais uma vez para nós, antes de fechar os olhos.
Eu e a Morte ficámos em silêncio durante muito tempo, ali em frente à janela. Até que decidimos voltar ao chão.
- Será que se voltarmos para trás?
- Leste os meus pensamentos, Morte!
- Podia, mas contigo não o faço.
Rimos à gargalhada e descemos a rua. Sem percebermos como, fomos dar à minha casa. Entrámos e a Morte foi fazer o tal chá!
Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim