- Aconteça o que acontecer!
Falar em voz alta ajuda-a a concentrar-se. A ganhar um sentido no caos interior que sente. A calar a voz determinista que lhe diz que está morta...
- Tenho de continuar a andar... Talvez se me aproximar da crista...
Ela sabe que eles a vão tentar flanquear. Por isso... Se ela restringir um dos lados, a matilha é obrigada a mudar de estratégia.
Em esforço, Vón começa a subir. Mais e mais, até chegar à crista da montanha.
Quando lá chega, ousa olhar para trás e vê no meio das árvores os olhos que a querem matar.
O coração aumenta de ritmo. Observa o que a rodeia à procura de uma solução.
*
- Vón, minha querida! Que se passa?
- Não é nada fadir! Estava só a pensar.
- Sempre a pensar e sonhar, minha dóttir... O que será de ti?
*
A neve já tinha acabado de cair. As nuvens, afastado. Agora a Lua ocupava o céu com a sua luz brilhante.
A crista da montanha, pouco acima de Vón, mostra os seus contornos. A floresta acabara poucos metros abaixo. A matilha reúne-se...
*
- Fadir!
- Sim, Vón!
- Quando tinhas a minha idade também pensavas e sonhavas com outras terras?
- ...
- Fadir?
- Sim... Sonhava! Sonhava com a minha casa.
- Mas não vivias aqui na aldeia?
- Não, dóttir. Sou de uma aldeia que ficava no outro lado da montanha.
- Um dia quero ir lá, fadir. Contigo!
- Já não podes. Foi destruída!
- ...
*
Vón continua ao longo da crista. A neve ali é mais granulada e esconde as rochas. De vez em quando, ela sente-as na sola dos pés. Mas não pode parar.
A matilha continua a segui-la pela orla da floresta. Pacientemente. Os lobos sabem que ela irá parar.
*
- O que aconteceu à tua aldeia, fadir?
- Um dia conto-te, Vón!
- Hoje?
- Um dia...
*
A respiração é, cada vez mais, ofegante. O coração parece querer explodir. Ela tem de parar.
- O que faço? FADIR!!! FADIR!!! Por favor...
As lágrimas abeiram-se dos olhos. Os lobos sentem o medo, o desespero. Ela sabe que a qualquer momento, um deles irá saltar da formação e ir ter com ela. Testá-la!
*
- Fadir, podes contar hoje?
- Vón! Não insistas, quando achar que é o momento, eu conto...
- Fadir...
*
Vón tropeça e cai. A tocha com ela... Um grito fica preso na garganta. Um lobo sai do grupo e aproveita a oportunidade para a atacar.
Vón vira-se. Pega na tocha apagada. O lobo pára. Ela enfrenta-o. Olhos nos olhos. O lobo mexe-se, de um lado para o outro. À procura de uma fraqueza.
Vón sempre a olhar para o lobo, vai recuando devagar. Até que cai num buraco!