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27 novembro 2019

Uma nova vida

A neve acumula-se lá fora. Vón olha para os flocos que caiem.

Aquela suavidade, leveza, levam-na em espiral para um mundo diferente, longe daquela aldeia no sopé da Úlfur Fjall.

Montanha do Lobo... O lobo... Animal omnipresente, símbolo da aldeia e rito de passagem de todos os rapazes. Nenhum deles pode considerar-se homem enquanto não derramar sangue de um lobo.

Ela sonhava como seria, se em vez de um rapaz, fosse ela a chegar à aldeia com um lobo morto... Será que a mãe continuava a insistir em casá-la? Já fazia um ano que começara a sangrar. Que poderia carregar uma criança em si... Como a mãe.

Só de pensar nessa possibilidade... Um esgar enfeitou-lhe a cara. Ela queria ir caçar com o pai. Queria descobrir mais segredos sobre a floresta, a montanha...

Aquela aldeia era tão pequena... O mundo tão grande...

Estava ela nestes pensamentos aleatórios. Neste sonhar acordada. Quando uns olhos rasgam a escuridão da floresta e olham diretamente para ela.

Um uivo soa ao fundo. Ela abre a boca e olha para trás.

Encostada à mesa, estava a mãe dela agarrada à barriga. Por baixo, uma poça de água.

- Módir!
- Vón, acho que é... Aaah!
- MÓDIR!
- Chama... Ah! Vai... Ah! Parteira... Aaah!

Vón sai a correr pela porta. Tropeça na neve. Cai uma... duas... três vezes... até chegar à casa mais distante da aldeia.


Bate à porta com urgência... Sem parar de bater e de gritar:

- COMEÇOU!


Rui M. Guerreiro