O frio. A neve. A escuridão. Envolvem os rostos vermelhos e ofegantes das duas. Escondem os tropeções e a aflição da adolescente.
- Vê por onde pões os pés! Não fazes nada de jeito. Nem correr!
- ...
Assim que chegam, a parteira agarra-se à mãe de Vón. Começa a falar com ela. Deita-a na cama. Apalpa-lhe a barriga. Abre-lhe as pernas. Vê a dilatação. Põe-lhe os dedos.
- Vai ser complicado... VÓN! Ferve água, traz-me panos limpos, aproxima-me essa mesa daqui... Vá! Depressa.
Vón está de boca aberta! Espantada com o sofrimento e nudez da mãe. Alheada da sequência de ordens. Concentrada na boca da mãe...
- Está tudo bem!
Essas são as únicas palavras que ela ouve. Apesar de não terem sido murmuradas, ditas, gritadas... Ou teriam?
- Acorda sua inútil! Vai pôr água a ferver!
Vón pega no panelão. Tropeça. O panelão cai com estrondo e rebola pelo chão.
- INÚTIL!!! Vai chamar a minha filha! JÁ, sua imprestável!
A adolescente olha para a mãe. A dor dela...
- Módir...
Vira-se e sai pela porta a correr.
Outra vez a lama e a neve atrapalham Vón. Mais umas quedas que sujam a roupa. Mais umas lágrimas que tentam limpar a dor da sua inutilidade, da sua vergonha.