O fogo purifica. A morte lava os pecados.
*
Olhei para cima. O topo da parede de ossadas parecia tão distante...
Lá em baixo, a lava continuava a escorrer e a lançar salpicos.
Respirei fundo. Lancei a mão direita. Depois a esquerda. O pé direito. O esquerdo. E assim fui subindo os primeiros metros.
Quando faltava pouco, uma mão esquelética agarrou-me o braço. Outra, a perna.
Com a mão livre peguei na espada. Mas um pé bateu-me na mão e a minha katana caiu na lava.
Uma outra mão agarrou-me a perna que faltava.
Com a minha mão livre desferi vários golpes, mas as ossadas não me largavam. Pelo contrário, cada vez mais me faziam entrar na escarpa.
À medida que me puxavam, comecei a sufocar. Mais e mais. Até que... desmaiei.
**
- Lembras-te de mim?
- Todos os dias.
- És mesmo tu?
- Fui sempre!
*
As sepulturas mantinham-se quietas. Nenhum fantasma. Nenhum corpo. Nenhuma ossada. Nada!
Naquele cemitério, só se encontrava o meu corpo, o vento e o frio do granito sepulcral.
Velhos estandartes familiares pontuavam em algumas sepulturas.
Continuava a andar, com as minhas sai na mão... mas nada!
Ao chegar à última sepultura reparei em algo estranho: uma katana espetada. Conhecia aquela katana!
- Guerreiro! Guerreiro! Não pode ser...
Assim que me aproximei da sepultura, ela abriu-se. No fundo da cova, estava o guerreiro.
Saltei lá para dentro. Agarrei-me a ele. As minhas lágrimas lavavam-lhe o sujo da cara.
**
Abri os olhos. Ali estava ela. A mulher, a sereia, que me salvou... que amo. A sua cara distinta pendia sobre mim.
Estendi a mão. Toquei-lhe no rosto.
**
Ele tocou-me no rosto. Os seus olhos abraçavam-me.
O chão abriu-se. Caímos.