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18 abril 2019

Exaustos


- Olha para mim! Que dizem os meus olhos?
- Não percebo!
- Que dizem os meus olhos?
- Que estás com medo...

*

Os três gigantes foram o início. Atrás deles surgiu um batalhão de samurais.

Enquanto eles desciam em linhas, a correr, nós pegávamos nos nossos arcos e flechas. As setas saiam de forma rápida e certeira.

Quando acabaram, pegamos nas nossas naginatas e deixámo-las cair nos primeiros que se aproximavam. Lutávamos costas com costas contra os samurais que se aproximavam em ondas.

Um após outro, os samurais iam caindo à nossa volta. Os corpos acumulavam-se. A luta era mais encarniçada, à medida que as nossas forças iam diminuindo...

*

- Não podemos ficar aqui mais tempo!
- Está na altura de sermos nós a atacar!

*

Dito isto, atirei a minha naginata contra um dos samurais e empunhei as minhas sai. O guerreiro copiou-me e desembainhou a katana.

Acenámos um para o outro e começámos a correr para a cabana. Golpes rápidos e eficazes iam-nos permitindo abrir caminho. Podíamos não estar a matá-los, mas pelo menos íamos progredindo.

De repente, os samurais pararam de nos atacar. Continuámos a correr, sem pensarmos duas vezes.

Foi então que vimos uma grande nuvem quase a cair sobre nós. Eram flechas atiradas de perto da cabana.

Acelerámos. Não podíamos ser apanhados por aquela chuva...

Felizmente, a partir de um certo ponto do descampado havia um caminho de pedras, o que nos permitiu correr mais depressa e alcançar uma distância mais segura.

Atrás de nós iam caindo as flechas. Não parámos para ver, nem para descansar.

O guerreiro ganhou velocidade no chão empedrado e atingiu rapidamente os arqueiros. Com movimentos precisos da sua katana e desvios milimétricos, conseguiu neutralizar grande parte da ala esquerda.

Enquanto ele batalhava na esquerda, eu ia atirando shurikens contra os arqueiros da direita, à medida que me aproximava.

Assim que cheguei, espetei as sai num deles. Rodei sobre o corpo de um que caía com uma shuriken no meio da testa. Atingi outro com um pontapé. Guardei as sai, peguei num arco e comecei a atirar setas.

A ala direita, num instante sucumbiu à minha investida. Quando me virei, os samurais aproximavam-se pelas costas do guerreiro. Recolhi um alforge e comecei a atirar setas sem parar, cada uma atingindo o alvo.

O guerreiro apercebeu-se do que se passava e também começou a atirar flechas, depois de espetar a katana no último arqueiro.

*

- Acho que não falta mais nenhum...
- Também acho que não...

Dizíamos enquanto ofegávamos. Os nossos corpos doíam a cada respiração. E cada respiração era arrancada do ar.

*

Encostámo-nos a um muro que antecedia o pátio da cabana. Agarrávamos sofregamente cada réstia de água que tínhamos encontrado nos cantis dos samurais e bebíamos em silêncio.

A chuva continuava a cair. Escorria à nossa volta como pequenas ribeiras.

A pouco e pouco, os nossos corpos iam recuperando a calma. O equilíbrio.

*

Estávamos ainda a recuperar, quando começámos a sentir o chão a tremer e a ouvir pedras a caírem...

Olhámos sobre o muro. A cabana desabava e, por detrás, surgia uma fortaleza com estandartes de uma era há muito terminada.

A velha protegia-se com tudo o que tinha. Cansava-nos, para sucumbirmos mais facilmente. Mas ela subestimava-nos.

Rui M. Guerreiro