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20 março 2019

Os assassinos



- Não dormiste.
- Perguntas?
- Não, afirmo.
- Tens razão, não dormi...
- O que pensas?
- Em tudo!

*

A névoa cobriu-nos durante a manhã.

Tínhamos acabado de partir e já se viam as sombras dos assassinos a correr e a saltar sobre as árvores.

- Eles não querem lutar aqui.
- Subestimam-nos...

*

Quando chegámos à clareira, os assassinos caíram à nossa volta.

O guerreiro pegou na sua bokuto e eu nas minhas sai. Olhamos um para o outro... e... nesse olhar vimos. Os beijos futuros. O toque de mãos. Os abraços. O nosso amor... em suspenso.

O silêncio adensava-se com o nevoeiro. Os nossos sentidos em alerta. Os corpos tensos. Costas com costas. Tudo seria muito rápido.

*

Os assassinos atacaram ao mesmo tempo. O metal das katanas vibrava contra as minhas sai. Perto de mim, ouvia o baque forte da madeira da bokuto embater contra corpos de carne.

O guerreiro desferia golpes no baixo-ventre, na cabeça, nos braços. Rodopiava num fulgor muito próprio de um homem que lutara em várias batalhas. A experiência, o discernimento, a eficácia dos movimentos, mostravam a sua perícia.

Entretanto, eu saltava e rodava sobre os meus oponentes. As minhas sai não encontravam resistência. Perfuravam qualquer parte dos corpos que se aproximavam de mim.

*

Os assassinos que restavam tiveram de recuar e de reagrupar.

Montaram uma muralha de cinco homens à nossa frente. Desafiavam-nos...

- Ataca-os, enquanto eu os flanqueio.

O guerreiro assentiu.

Um grito de guerra foi lançado.

Desapareci na névoa. Corria em silêncio. Os assassinos procuravam-me. Mas a tempestade do guerreiro atingiu-os antes que reagissem.

Ataquei-os por trás e, em segundos, os cinco amontoaram-se sobre os restantes cadáveres. Testemunhos da nossa passagem. Da nossa batalha.

*

- Os teus movimentos em batalha...
- Sim. Há coisas que não sabes de mim...
- Não é isso!
- Então?
- Eu já lutei contigo!!
- ...

*

Os nossos corpos recuperavam. Despidos. Deitados sobre uma rocha. Ao sol. Junto a uma cascata.

Laváramos os corpos e roupas. Mas as nossas almas mantinham-se manchadas... de sangue... de passado...

Rui M. Guerreiro