O ar ocupa o espaço vazio entre nós... cheio de dor...
*
A mão susteve-se durante uns segundos e... caiu.
Silenciosamente, o sangue escorria das feridas. Sem ruído, misturava-se na areia.
As dores ecoavam no espaço que nos separava.
O meu coração, transformado pela culpa, tentava reerguer as árvores e bambus pisados.
Mas as forças tinham-se esgotado... levadas pelas ondas.
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O meu corpo mantinha-se quedo debaixo do sol. Tentava recuperar das feridas da culpa. Mas esta, embora cega, fere mais do que se pensa.
Cada pancada que dá, gera ferida invisível. Cria uma laceração interna que infeta... que se espalha, que nos destrói em silêncio.
Mas desta vez, eu venci... Desta vez, consegui afastá-la...
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Forçava-me a manter os olhos abertos, na direção da mulher que queria tocar... Mas sentia-me tão distante...
Esbocei um som, remotamente parecido com algo reconhecível. Desmaiei.
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Acordei na cabana. Corpo limpo. Emplastros nas feridas.
O cheiro a comida inundava as minhas narinas, enquanto ouvia a voz de uma mulher a cantar.
Tentei levantar-me, mas não consegui. Sentia-me ainda fraco.
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Acordei na cabana. No chão da entrada. Tinha conseguido arrastar-me.
O cheiro a humidade, a mofo, inundava as minhas narinas, enquanto ouvia o vento a assobiar.
Tentei levantar-me, mas não consegui. Sentia-me ainda fraco.
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Acordei na cabana. A artesã esculpia mais uma estatueta. Sorria para mim.
O cheiro da lareira, de madeira queimada, inundava as minhas narinas, enquanto ouvia as aparas a caírem no chão.
Tentei levantar-me, mas não consegui. Sentia-me ainda fraco.
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Acordei na cabana. A minha companheira esperava por mim. De braços abertos...
O cheiro do seu corpo inundava as minhas narinas, enquanto ouvia o meu nome sussurrado.
Tentei levantar-me, mas não consegui. Sentia-me ainda fraco.
*
Acordei. Ainda estava na baía.
Não sei quanto tempo passou. Era de noite. As estrelas povoavam o céu.
O cheiro da maresia enchia-me. Despertava-me. O marulhar das ondas chegava a mim, como um segredo soprado ao ouvido.
Sentei-me. Ainda estava fraco, mas o corpo estava descansado, apesar de dorido.
Olhei para a falésia. Ela já lá não estava... Ou... nunca esteve?
Levantei-me a custo. Caminhei até à ribeira e lavei-me com a água fria e corrente.
Deitado ali, de barriga para o ar, enquanto a água corria por mim, lavando-me, olhava para as estrelas... em silêncio, sossegado, soturno, a pensar nos sonhos que tinha tido. Nas mulheres que passaram por mim. Na culpa que ficou. Na dor que provoquei e que senti...
Ergui-me.
Andei até à cabana. Preso na porta, um bilhete...
Debaixo dos mesmos caracteres gravados na cabana, agora reproduzidos naquele pergaminho, encontrava-se a tradução:
- Abraça as sombras. Conhece a escuridão. Vive com luz. Pois aquele que não conhece a escuridão, não vive com luz. Pois aquele que não abraça as sombras, não caminha entre a escuridão e a luz.