A ilusão... Criamos ilusões para ajudar a superar a dor...
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O sol aquecia o meu corpo. A inércia tinha tomado conta de mim. A noite preparava-se para surgir, estrelada, sem nuvens...
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O vento fazia sentir-se quando cheguei àquela pequena aldeia. As estrelas mostravam-se em todo o seu esplendor, sem a censura da Lua.
Os anciãos receberam-me com todo o respeito e levaram-me para a casa de um deles. Ouvi dizer que precisavam de ajuda para lutarem contra um monstro.
Ali escutei as histórias, as aventuras, daquela gente e tudo o que aquele monstro lhes fizera. Desde o pastor que tinha lutado com o seu cajado e o cão, até à história em que um celeiro tinha sido destruído.
Enquanto escutava, apercebi-me de uma mulher que olhava fixamente para mim. Havia algo naquele olhar que me era familiar.
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Afundei-me naqueles olhos. Mergulhei nas memórias de ambos.
Aí, as nossas bocas encontravam-se. As mãos deslizavam. Os olhares suspendiam-se. Os sons ecoavam. Os cheiros misturavam-se... Os corações batiam ao mesmo ritmo.
Recordei as noites juntos, os dias ligeiros, a felicidade que nos unia... Sorri...
Há muito que tinha guardado estas memórias. Pensava que as tinha esquecido... Até que a vi outra vez.
Aquele olhar...
Lembrava-me do sorriso dela ao dormir. Da forma como os dedos encaixavam no cabelo. Como o nariz se mexia enquanto ela respirava.
Também me recordava de como ela detestava coisas fora do sítio. De como ficava ansiosa...
Aquele olhar...
A última vez que o tinha visto foi num dia em que passeávamos junto ao rio. Estava um final de tarde quente. O sol punha-se por detrás das montanhas e espalhava a sua luz amarela pelo verde dos campos.
Do nada, surgiram três homens de espada em riste. Pediam dinheiro. Nós não tínhamos nada connosco... nem a minha katana.
O mais alto de todos aproximou-se de mim e tentou segurar-me, mas eu escapei-lhe e desferi-lhe um pontapé em cheio no nariz. O sangue começou logo a correr e o homem agarrou-se ao que tinha a sua orgulhosa protuberância facial.
Porém, alguém me apanhou a meio da queda e derrubou-me e espancou-me. Ela, entretanto, tinha sido agarrada pelo chefe do bando. Ele despia-a com a gula.
Fiquei a olhar para ela, enquanto me batiam... Enquanto ela... Um brilho acordou-me daquele torpor. Já tinham parado com o espancamento. O meu corpo, mal sentia a dor, por não saber qual era prioritária.
O brilho era o último raio de sol refletido numa lâmina que atravessava o abdómen da mulher que amava.
Antes de irem, pontapearam-me a cabeça e riram de felicidade e prazer.
Mais tarde... Choraram de dor... Um de cada vez.
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Os anciãos continuavam a falar, quando acordei daquele sonho. A mulher continuava ali. Levantei-me... e atirei um shuriken.
A mulher caiu para o lado. Os aldeões ficaram em suspenso durante poucos segundos. Quando perceberam o que tinha acontecido atacaram-me.
Mas, no preciso momento em que me iam pegar. Um monstro ergueu-se do corpo daquela mulher.
A raiva de animal ferido estava presente. A fúria também... Soltei-me dos aldeões, corri para o monstro e saltei.
O único som que se ouviu a seguir foi o baque da cabeça a cair no chão.
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A noite estava realmente muito estrelada... Ergui-me daquela rocha e segui para a cabana.