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27 janeiro 2019

O lobo



- Sonha! Os sonhos curam a alma.

E eu?

Continuei a sonhar...

*

Caminhava por um trilho estreito. À minha volta, os bambus assobiavam com o vento. Os pés lutavam contra a lama. Chovia. Estava frio.

As minhas mãos ainda guardavam o sangue da minha última batalha. As feridas no meu corpo ainda estavam frescas.

Sentia nas minhas costas o olhar de um lobo solitário que me seguia, ávido de sangue.

Cambaleava. A chuva persistia de forma mais intensa.

Cansado, caí junto a uma velha árvore. Negra. Grossa. Áspera.

Peguei na katana. Esperava o lobo. A chuva?


Acordei. Tinha adormecido.

Ao pé de mim estava uma rapariga. Ateava uma lareira. As minhas feridas, tapadas por panos limpos, rasgados do kimono dela. A minha katana? Pousada a meu lado.

Durante a noite, a chuva parou e ela cuidou de mim. O lobo mantinha-se à distância. À espera.

De madrugada, ela partiu. Beijou-me a testa e foi.

A custo levantei-me. Fui até ao ribeiro e lavei-me. As feridas cicatrizavam. A dor tinha atenuado.


Regressei ao trilho. A chuva tinha voltado. O vento também.

Mais à frente. Vi o lobo.

À sua frente estava a rapariga. Sem pensar, desembainhei a katana e ataquei.

E quando ia desferir o meu golpe... A mão dela parou-me!

Olhou para o lobo, para mim... e partiram. Lado a lado.

A minha katana continuava erguida. A chuva cada vez mais intensa. E, foi nessa altura, que uma dor me fez contorcer e cair no chão.

O meu grito foi mudo. Levado pelas águas...

*

- Relaxa!

Disse a mesma mulher, das diferentes caras, mas com outra voz...

Rui M. Guerreiro