- Sonha! Os sonhos curam a alma.
E eu?
Continuei a sonhar...
*
Caminhava por um trilho estreito. À minha volta, os bambus assobiavam com o vento. Os pés lutavam contra a lama. Chovia. Estava frio.
As minhas mãos ainda guardavam o sangue da minha última batalha. As feridas no meu corpo ainda estavam frescas.
Sentia nas minhas costas o olhar de um lobo solitário que me seguia, ávido de sangue.
Cambaleava. A chuva persistia de forma mais intensa.
Cansado, caí junto a uma velha árvore. Negra. Grossa. Áspera.
Peguei na katana. Esperava o lobo. A chuva?
Acordei. Tinha adormecido.
Ao pé de mim estava uma rapariga. Ateava uma lareira. As minhas feridas, tapadas por panos limpos, rasgados do kimono dela. A minha katana? Pousada a meu lado.
Durante a noite, a chuva parou e ela cuidou de mim. O lobo mantinha-se à distância. À espera.
De madrugada, ela partiu. Beijou-me a testa e foi.
A custo levantei-me. Fui até ao ribeiro e lavei-me. As feridas cicatrizavam. A dor tinha atenuado.
Regressei ao trilho. A chuva tinha voltado. O vento também.
Mais à frente. Vi o lobo.
À sua frente estava a rapariga. Sem pensar, desembainhei a katana e ataquei.
E quando ia desferir o meu golpe... A mão dela parou-me!
Olhou para o lobo, para mim... e partiram. Lado a lado.
A minha katana continuava erguida. A chuva cada vez mais intensa. E, foi nessa altura, que uma dor me fez contorcer e cair no chão.
O meu grito foi mudo. Levado pelas águas...
*
- Relaxa!
Disse a mesma mulher, das diferentes caras, mas com outra voz...