A tempestade ainda se fazia sentir, quando o barco encalhou na margem junto ao túnel por onde escoavam as águas pluviais.
Sióg manteve-se quieta, até sentir um abanão. No meio da areia, alguém abanava o pano e gritava... Mas o barulho do vento era demasiado forte.
Com receio de que fosse um humano, a fada guerreira mantinha-se o mais sossegada possível, rezando para que não fosse descoberta.
Nisto, uma mão descobriu uma parte do pano e gritou para trás. Um lenço cobria-lhe a face, mas não as orelhas pontiagudas, típica de uma fada.
- Será uma sentinela?
Ao pensar isto, sentiu-se a desvanecer e acabou por desmaiar...
Quando abriu os olhos, estava num hospital de campo, montado à pressa no salão de baile. Várias fadas encontravam-se em silêncio... Como se estivessem à espera de algo...
- Vejo que já acordaste.
Sióg demorou algum tempo a perceber o que lhe diziam. A pronúncia típica do reino das Fadas do Sul, associado a um nevoeiro mental, não ajudava a fada guerreira a entender o que se passava.
- Não tens de falar já... Deves estar ainda a sentir-te com a mente enevoada. Bebe mais um pouco de água.
- ...
- Deves estar a tentar recordar-te do que se terá passado. A tentar dar um sentido ao que sentes e vês...
Sem esperar resposta, a fada que a acolhia continuou:
- Uma tempestade de areia atingiu-nos, mesmo na véspera de um ataque das forças de Tyrann. E, quando as sentinelas do túnel de escoamento, se preparavam para se abrigar, viram o teu barco chegar. A areia tinha começado a encher o barco e, com o peso, o pano começou a moldar a forma de um corpo. Foi então que eles te descobriram. E, ainda bem! Não sei há quanto tempo não comias ou bebias água, porque estavas desidratada e bastante fraca. Daí teres desmaiado.
Ao longe, uma explosão fez-se ouvir...
- Começou!
Rui M. Guerreiro, o guerreiro ruim