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22 janeiro 2019

A última batalha

Unknown author (source: Pixabay)

O suor escorria-me pela cara. Misturado com o sangue.
O sabor a ferro invadia a minha boca.
O corpo doía-me... Sentia cada corte, hematoma, músculo e tendão.
Sentia-me querer evadir. Fugir.
A respiração era ofegante.
A tensão nas mãos, cada vez mais leve.
Ele olhava-me nos olhos.
Via nele um misto de raiva, de fúria pura com... medo...
Ele estava ereto. Gritava para me levantar.
Não há honra na morte de um inimigo de joelhos.

Segurei-me na minha katana. Ergui-me.

Coloquei-me em posição. Concentrei-me no meu corpo. Confiei em todos os movimentos gravados na memória. Naqueles que repeti centenas de vezes em duelos individuais.

Este seria o último. Tinha de ser o último.

Ele atacou. Concentrei-me naquele momento. No meu corpo.

À minha volta sentia o ar pútrido do pântano. Aquele cheiro nauseabundo a morte, misturado com o suor do meu adversário... Cheirava a medo, a orgulho, a soberba, como todos os que me levaram ao chão.

Havia uma luz dourada, pelo meio da neblina matinal. Irradiava pela brancura e sombras criadas pelo nevoeiro.

Os meus pés e pernas assumiram a posição. As mãos apertaram a katana que tantos anos me serviu, que pesava com o sangue de cada um que tinha morto.

O meu tronco fletiu... e... num movimento de torção, projetei a katana para a frente.

O silêncio do pântano interrompeu-se com o grito do meu adversário. Com o seu vómito de sangue e baque surdo do seu corpo no chão.

Endireitei-me. Fiz uma vénia a tão ilustre adversário. Olhei para os fantasmas que o apoiavam. Deixei cair a minha nobre katana. Despi a armadura e... segui. Só com o meu kimono, avermelhado de sangue.


Rui M. Guerreiro